Igualdade

Elas em todos os espaços

Cada vez mais, mulheres passam a ocupar cargos que antes eram considerados masculinos

Jô Folha -

Já estava estampado na capa do livro de Patrícia Lages: Lugar de mulher é onde ela quiser. E é cada vez mais comum a presença delas em ambientes considerados, até então, “masculinos”, como na política, no comércio, em cargos de alto escalão ou mesmo como donas do próprio negócio. Na contramão dessas conquistas, o preconceito em falas, olhares e atitudes acaba atrapalhando a evolução. Antes que se encerre o mês de março, dedicado a tantas histórias de luta, o Diário Popular entra neste universo e traz dois relatos aos leitores.

A cobradora de ônibus Cíntia Kabke, 43, é uma delas. Há 25 anos trabalha no transporte coletivo de Pelotas. Mas não é uma exceção. Ela lembra, que por volta dos anos 2000, o município teve inclusive motoristas mulheres e contou com 16 cobradoras atuando no mesmo período.

Cintia conta que durante todos esses anos, não foi diminuída ou sofreu preconceito por parte dos usuários. Pelo contrário: ao entrarem no ônibus, acabam demonstrando seu sentimento. “Eles dizem que são melhor tratados, não escondem a emoção, por ser diferente”, explica.

Para a cobradora, a presença feminina neste espaço poderia ser maior. “Eu não acho que tenha diferença do homem para a mulher. Sou mãe, sou dona de casa, sou tudo. Apesar de ser corrido, dá para conciliar de boa, é bem tranquilo”, relata a profissional.

Resistência por ocupar seu espaço
Porém, nem todas as mulheres têm a mesma receptividade que Cíntia. Atuando como consultora técnica de serviços em uma concessionária de veículos, Alessandra Oliveira, 32, se divide entre as responsabilidades com o filho de sete anos e os afazeres domésticos. Apesar de estar em um ambiente com predominância masculina, ela conta que o local proporciona oportunidades sem distinção por gênero.

Mas o cenário já não é o mesmo com uma parcela dos clientes, que muitas vezes acabam duvidando de sua palavra. “É como se não acreditassem no que a gente está falando. Muitas vezes temos que explicar, explicar e em muitos casos precisamos chamar um homem, que daí parece que acreditam. Eu fico meio frustrada, porque eu não mexo nos veículos, mas a gente tem a mesma formação”, desabafa.

Resistindo às adversidades, Alessandra permanece firme e feliz com seu trabalho. “Eu gosto da parte dos carros, da recepção, de trabalhar com o público. Eu escolhi [trabalhar no ramo] por conta disso”, finaliza.
Na mesma concessionária, há outras mulheres trabalhando, inclusive ocupando cargos de gestão. Entre elas, a gestora de relacionamento com o cliente Juliana Tessmer, de 34 anos. Segundo ela, a mulher atual possui um perfil independente e busca sua autonomia em diversas áreas, até mesmo no automotivo. “Aos poucos nós estamos cada vez mais nos inserindo nesse espaço que era considerado tão masculinizado e trazendo esse diferencial feminino”.

Declarações infelizes
No último dia 8, enquanto participava do seminário Dia Internacional da Mulher, promovido pelo Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, proferiu palavras que não foram bem aceitas. Em seu discurso, ele disse: “Hoje é dia de homenagem à mulher, no seu sentido mais profundo, da sua individualidade, da sua intimidade. A mulher que tem o prazer de escolher a cor da unha que vai pintar, a mulher que tem o prazer de escolher o sapato que vai calçar”.
A manifestação acabou reforçando estereótipos femininos, segundo nota divulgada, um dia após o ocorrido, pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) Mulheres. “...invisibiliza os relevantes trabalhos desenvolvidos pelas procuradoras da República e reduz o papel por elas desempenhado na instituição”, diz o texto.

Com a repercussão negativa, o procurador divulgou vídeo nas redes sociais onde se desculpa e diz que foi malcompreendido. “De forma alguma quis diminuir o papel que a mulher sempre teve em nossa sociedade, apenas destaquei que é possível buscar qualquer posição, até o mais alto posto da República, sem abrir mão da sua feminilidade”, disse.

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